Tayssa Madeira morava com o atleta de MMA há seis meses. Foi espancada com socos e chutes, teve o pulso quebrado e saiu com vários hematomas após discussão
Tayssa Madeira estava noiva de Marlon Sandro, ex-lutador do Bellator, há pouco mais de um mês. Quem acompanha o atleta pelas redes sociais provavelmente já havia visto o casal, justamente por conta do grande número de fotos apaixonadas que ele compartilhava em seus perfis. Os dois moravam juntos há seis meses e, na última quarta-feira, foram ao Maracanã acompanhar o jogo do Flamengo contra o Independiente, pela Copa Sul-Americana. Tudo ia bem, até que Tayssa virou parte da estatística e se tornou uma das 503 mulheres vítimas de violência doméstica a cada hora no Brasil.
Na madrugada desta sexta-feira, a gerente de marketing conversou com o Combate.com e relembrou os momentos de horror sofridos após o jogo. Depois de uma discussão com o noivo, ela foi espancada no meio da rua. Apagada
com um mata-leão, recebeu chutes e socos no rosto, puxões de cabelo e
se viu na mesma situação que uma em cada três mulheres tem sofrido no
Brasil ao longo do último ano.
- Estava com o Marlon no jogo do Flamengo, e aí ele se irritou por
algum motivo. A gente tinha bebido, mas também nada demais. Eu não
reparei em nenhum transtorno absurdo nele. Ele queria ir embora, e eu
falei que não. Devo ter reclamado ou retrucado que eu não queria ir
embora, e isso provavelmente virou uma briga, mas eu não sei porque
tomou essa proporção. Ele me agarrou no pescoço, me apagou no meio-fio,
já na minha rua. Quando eu acordei no chão, perguntei: “O que que
houve?”. E aí ele disse que ele tinha me apagado, que eu tinha dormido.
Eu perguntei por que ele tinha feito isso e ele não me dizia o motivo.
Eu falava: “Mas por quê que você está fazendo isso?”. E ele não falava
nada, só me xingava. Então ele me deu a primeira pancada, que foi aqui
na orelha, que está sangrando, machucou o meu brinco. E aí eu não
entendia. Eu continuava perguntando por quê? Ele ficou transtornado, ele
surtou. Não tinha um motivo, não houve uma briga, não houve um
desentendimento pra gente chegar nisso. Foi simplesmente uma reação
dele. Ele perde a cabeça e eu não sei de onde surgiu isso - relembra.
Madeira conta que, a partir desse momento, as agressões começaram a
progredir. Mesmo pedindo por socorro, ela relata que ninguém parou para
ajudar.
- Ele começou a me bater, eu tentei fugir, tentei entrar num táxi, o
táxi foi embora porque ele me puxou pelo cabelo. Ninguém ajudou, tudo
bem que estava muito tarde e não tinha muita gente passando, mas eu
gritei por socorro. Eu vi dois porteiros olhando e ninguém ajudou, sabe?
Eu não sei se olham pra ele e, vendo o tamanho dele, as pessoas ficaram
com medo. Não dá pra julgar também uma pessoa se meter nisso assim
sozinha. Mas ele não teve o menor pudor de fazer isso no meio da rua. Me
deu um chute e me acertou aqui na coxa, eu caí no chão assim de joelho,
bati meu pulso, quebrei o punho, bati no meio fio. Aí ele veio, eu fui
pra cima dele ainda, tentei empurrar ele e perguntar por quê isso estava
acontecendo, e eu falava: “Para com isso, pelo amor de Deus”. E ele me
deu um soco, que foi esse pior, de frente, me deu um soco no olho, me
deu outro quando eu estava no chão, me deu um soco atrás da cabeça, na
testa também. Me deu chute…eu não entendi porque ele estava fazendo
isso.
Tayssa afirma que, em um determinado momento, conseguiu fugir ao pegar a
chave do carro de Marlon. Ela seguiu para a 9ª DP, no Catete, onde
pediu ajuda da polícia, mas foi informada que não poderia fazer o
Boletim de Ocorrência antes do reconhecimento médico.
- Eu consegui fugir na hora que…eu ainda cheguei a roubar o carro dele,
peguei a chave quando ele jogou as minhas coisas no chão e eu caí no
meio da rua. Ali eu peguei a chave, entrei e consegui trancar, ele ainda
tentou ir atrás, aí eu fui na delegacia. Lá no Catete, na 9ª DP, o
policial chamado Eduardo riu da minha cara, ficou rindo e eu cheguei aos
prantos e falando: “Estou sendo agredida pelo meu noivo, eu não sei o
que fazer, estou com medo de voltar e roubei o carro dele pra fugir,
porque táxi nenhum parava”. E ele falou: “Infelizmente você tem que ir
pro hospital, porque aqui eu não posso fazer nada por você”. E eu falei:
“E o boletim de ocorrência? Não é assim? Eu achei que era assim, que
você ia pra delegacia e a polícia te ajudava. Se a polícia não pode me
ajudar, eu não sei quem pode!”.
A gerente de marketing, então, voltou para rua onde mora para devolver o carro de Marlon e seguir para o hospital.
- O policial falou: “O primeiro passo é que você precisa devolver o
carro.” Eu falei: “Você quer que eu devolva o carro e ele acabe de me
matar?” Aí ele falou, “Não, deixa o carro, porque não é seu, e você tem
que ir pro hospital.” Foi o que eu fiz. Eu voltei, ainda falei com ele,
“Belo policial, né, espero que você não precise de ajuda pra ninguém da
sua família e não tenha um policial como você pra ajudar.” Eu deixei o
carro de volta na minha rua, entrei num táxi - quando eu ia entrar no
táxi ele (o Marlon) ainda puxou a minha porta, ficou me perguntando onde
tinha deixado o carro dele, mas eu já tinha deixado pra lá. Ele ficou
me puxando pelo cabelo e pela roupa, fiquei seminua. Eu pedi um Uber, eu
só pedia pro cara do Uber ir embora. Fui pro hospital Rio Laranjeiras, e
aí chegando lá, porque era de madrugada, não tinha muito atendimento.
Tinha uma plantonista, que me olhou e falou que eu tinha que fazer uma
série de exames, por conta de pancada na cabeça. Ela achou que meu punho
estava fraturado, só que eu ia ter que esperar muito, porque naquela
hora não tinha ortopedista, não dava pra fazer nem raio-X e nem
tomografia. Aí falei que não, que só queria algo pra dor e ir embora!
Ela me fez assinar um termo pra sair à revelia, me deu uma injeção de
algum analgésico, e eu fui pra casa, minha irmã foi me encontrar. O
Marlon deixou a chave dele, porque a gente já morava junto; fui pra casa
da minha irmã, consegui tomar um remédio pra dormir, e de manha fui
para o hospital Souza Aguiar fazer todo o boletim, todos os exames, Foi
quando vi que fraturei o punho, tive que imobilizar e engessar. Meu olho
tem que fazer alguns exames mais sérios, porque parece que tem alguma
coisa, tem um derrame, e minha tomografia deu tudo OK. Fiz todos os
exames, está tudo OK, só tenho dor e estou tomando remédios o dia
inteiro - completa.
Questionada, Tayssa confessou que não foi a primeira vez que havia sido vítima de agressões por parte do atleta de MMA.
- Não (não foi a primeira vez), mas nesse grau, foi. Nesse nível, foi.
As outras foram, assim, leves. Não sei se pode chamar alguma agressão de
leve, mas foi uma coisa assim…Por ciúmes ele já me empurrou, já me deu
uma cotovelada na barriga, mas nunca neste grau. E sempre falando, “Ah,
eu sei, tenho que mudar, eu fico estressado…”. Nunca neste nível de
acabar com a minha cara assim.
Ainda bastante abalada, ela diz que não sabe o que vai fazer daqui pra frente.
- Eu sei lá o que eu penso… Eu só quero ficar em paz. A gente tinha uma
família linda, eu ia casar com ele, a gente ia casar no ano que vem. A
gente ia casar no civil agora. Eu era muito apaixonada… Eu sou, não sei
se dá pra dizer agora, ninguém “desama” do dia pra noite. E achei que
fosse viver o resto da minha vida com ele, porque é o amor da minha
vida. Mas não pode, sei lá… Se fosse o amor da minha vida, não faria
isso, né?
Mãe de Tayssa, Ivna Wuensche também conversou com a equipe do Combate.com e lamentou o ocorrido. Ela ainda fez um alerta às mulheres que passam pela mesma situação sofrida pela filha:
- Eles estão juntos há pouco tempo, era uma pessoa calma e tranquila,
apesar da diferença de nível de cultura, mas era uma pessoa que a gente
recebeu em casa. De um neto, eu passei a ter três, sem nenhum problema.
Tinham planos de casar, e essa semana ainda fui pega de surpresa, porque
eles passaram o dia aqui e disseram que iam casar no civil. Eu
estranhei um pouco que fosse isso, e a única coisa como declaração é que
nada, de nenhuma forma, justifica o que foi feito. O que eu acho
importante, e tenho orgulho dela estar se pronunciando, é que mostre
isso para as outras mulheres. Eu trabalho no Souza Aguiar, a gente vê a
violência todo dia, e contra a mulher é um absurdo. O único hospital que
tem um serviço avançado, que é uma parceria com o Estado, de violência
da criança e do adolescente infelizmente não acolhe mulher, é só a
violência da criança e do adolescente. Então, a gente trabalha com esse
tipo de violência o tempo inteiro. Quem se beneficia é o agressor, quer
dizer, as vítimas fazem um ciclo que é conhecido, independe da idade, da
raça, da cultura, do nível social…indecente. O ciclo é sempre o mesmo:
elas gostam, são agredidas, eles pedem desculpas, elas continuam, são
agredidas de novo e, por conta da vergonha não falam nada e ficam nesse
ciclo o tempo inteiro até que, ou elas morrem da violência ou elas têm
coragem pra sair desse ciclo - desabafa.
Depois da repercussão do caso, Marlon foi expulso da Nova União, onde
era considerado o braço direito de Dedé Pederneiras e um dos principais
expoentes do time. Aos 40 anos, o ex-campeão peso-pena dos eventos
japoneses Sengoku e Pancrase, teve também passagem destacada pelo evento
americano Bellator, onde foi vice-campeão de dois torneios pesos-penas.
Companheiro de treino de José Aldo, o atleta esteve no córner do
ex-campeão peso-pena do UFC na maioria de suas lutas, inclusive a
última, em Detroit, onde Tayssa atuou como tradutora do lutador do
Ultimate. Seu cartel profissional no MMA é de 28 vitórias, sete derrotas
e dois empates.
Serviço:
Segundo a Lei Maria da Penha, que tornou crime a violência doméstica e
familiar contra a mulher em 2006 , mulheres vítimas de agressões podem
fazer a denúncia em qualquer delegacia, caso não haja uma Delegacia da
Mulher 24 horas na área do ocorrido. Mulheres vítimas desse tipo de
situação, em qualquer lugar do país, podem entrar em contato com a
Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, através do
telefone 180, que é um serviço de utilidade pública gratuito e
confidencial.
FONTE: https://sportv.globo.com
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